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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Um Dia De Cão - Parte #1














Uma madrugada fria de inverno marca aquele que seria o início de um Sábado de descanso para Antunes, que passara desde o dia anterior até as 4 da manhã num trabalho frenético, conseguindo terminar o projeto que lhe renderia bons frutos e quem sabe até uma promoção na multinacional em que trabalhava. Chega as 5 e pouco em casa, exausto, mas realizado por ter conseguido terminar tudo com folga de pouco mais de 1 dia em relação ao seu cronograma. Ao abrir a porta, silêncio. Todos dormem. Ao entrar no quarto, contempla por alguns instantes sua esposa ainda dormindo, profundamente, e o labrador da família dormindo no tapete ao lado da cama, próximo a ela. Torce o nariz pois não curte cachorros, ainda mais dentro do seu “sobrado triplex”, mas conforma-se já que sua mulher e seus filhos, além de gostarem muito de cães, sentem-se mais protegidos com a presença de Léco dentro de casa. Lembra-se disso, pensa e ri consigo mesmo, enquanto tira a roupa para ir dormir:

--- Proteção! O bicho hoje nem acordou quando eu entrei no quarto, como geralmente faz. Ainda bem que o condomínio aqui é bem protegido, por que se fosse contar com esse cão... – vai até a cama, deita e, antes de apagar de cansaço, afaga o rosto da esposa, que sibila suavemente em seu travesseiro. Em poucos minutos está em um sono pesado e profundo.

-

Ruídos sutis de água e gargarejo fazem Antunes ir despertando suavemente. Dá aquela espreguiçada, esticando-se e tendo a impressão do colchão estar mais duro que de costume. Mantém os olhos fechados enquanto escuta os barulhos diversos, que indicam a sua esposa no banheiro. Pensa ter dormido o dia todo e já ser tarde da noite de Sábado, abrindo levemente os olhos e achando tudo muito estranho.

--- Mas que porra é essa? Estou no chão, do lado da cama! Mirian está no banheiro e não me viu cair? Não creio nisso! – Ao tentar se levantar porém, percebe o que está ocorrendo e sente um misto de surpresa, confusão e medo:

--- Meu Deus! Eu sou... eu sou... um cachorro?!? – Mas mal tem tempo de continuar os seus pensamentos, porque Mirian volta rapidamente pro quarto indo em sua direção.
--- Shhhhhhiiiii!!! Quieto rapaz!! – Repreende-o enquanto abaixa-se para acalmá-lo– Se você acordar o Antunes vai sobrar pra nós dois!

--- (falando baixinho enquanto o afaga) Léco, que é que você tem? Teve um pesadelo pra acordar assim, ganindo e latindo, foi, meu amor? Nossa, você está até tremendo! Vem, vamos lá pra cozinha, vou abrir aquela latinha especial de comida pra você esquecer esse sonho ruim. – Mirian interrompe o carinho, levanta-se e dirige-se até a porta, olhando ternamente para o cachorro. Simulando estalos nos dedos como forma de chamá-lo e sussurrando ao mesmo tempo o seu nome, vai se afastando, já acostumada com o grande labrador amarelo a seguindo até a cozinha. Nisso, um Antunes cachorro, perplexo e com a cabeça a mil por hora, ainda deitado no chão, tenta acalmar-se e analisar a situação:

--- Isso só pode ser um sonho! Eu estou no corpo do Léco!! – fica absorto por um certo tempo, tentando se acalmar,  pensativo – Bom, se isso é um sonho, vou deixar acontecer... Pra quê me preocupar? – Com essa resignação em mente, muda da água pro vinho, sentindo-se confiante na sua nova “forma” canina. Respira fundo, levanta-se e vai até o outro lado da cama, onde vê o seu eu “humano” ferrado no sono, roncando feito um porco.

--- Nossa, não é que é verdade? Eu ronco muito mesmo! – Instintivamente senta-se e coça a orelha com a pata traseira, virando em seguida a cabeça e dando uma lambida nos próprios documentos, para então cair a ficha e pensar consigo mesmo, espantado:

--- Puta merda! Lambi as minhas coisas! hmmm... então é assim que os cães fazem quando tem que coçar ali! Bom, isso é um sonho mesmo... apesar de que estou achando que está durando demais. Enfim, vamos ver o que acontece! – Antes de descer até a cozinha, levanta o focinho e observa o horário no relógio sobre o criado mudo: 8h20 da manhã.
  
    O caminho até a cozinha foi realmente muito divertido. Nunca imaginara a perspectiva das coisas pelo ângulo de Léco. Sentia-se como se estivesse num mundo novo, embora já morasse naquele sobrado a mais de 5 anos. A peripécia para descer a escada foi algo que causou um certo medo de início, mas que percebeu dominar instintivamente. “Caramba, as 4 patas são sincronizadas! Que legal!”, pensou, quando também se deu conta de que sentira um cheiro de comida logo ao sair do quarto e, ao chegar lá embaixo, vários outros cheiros, deixando-o surpreso novamente:

--- Nossa, tudo parece extremamente mais aromático e “próximo”! Tô gostando! – nem se toca que agora tem uma cauda, que abana alegremente, fazendo Mirian ficar mais contente ao observá-lo enquanto chega na cozinha.

--- Meu amor, você não quis descer junto com a mamãe não? Ficou mais um pouquinho deitado foi? – Mirian fala com aquela voz lânguida e melosa que todo dono faz pro seu cão e o afaga, enquanto Antunes, em sua concepção, dá gargalhadas ao escutar sua esposa falando com ele dessa forma. Para ela, um cão que não para de latir enquanto abana a cauda é sinal de fome e alegria. Ela vai até o balcão da cozinha e pega uma lata já aberta e com uma colher dentro, sorri para o cão e vai em direção a área de serviço ao lado da cozinha, sendo seguida pelo seu companheiro peludo. Uma tigela grande, vermelha e vazia jaz ao lado de outra um pouco maior azul, cheia de água. Mirian pega-a e despeja o conteúdo da lata, colocando por cima um pouco de ração seca, que complementa de um saco que está em cima do balcão próximo. Mistura tudo com a colher e coloca de volta no chão, junto à vasilha de água. Antunes para de latir, senta de frente pras vasilhas e as encara.

--- Putz, isso tá com uma aparência esquisita... – sua barriga ronca –  mas apetitosa! – E sem pensar duas vezes enfia o focinho sem cerimônia e pudores, já acostumado com a sua situação, e manda ver no conteúdo da vasilha. Mirian contente se afasta para ir tomar o seu café mas não deixa de soltar um comentário típico antes de ir: “Isso mesmo, pape! Pape tudo bonitinho!”. Uma tossida e novos latidos:

--- Mirian, não me faça rir novamente senão eu mordo a sua perna! – E volta ao prato. Miriam retruca:

--- Que foi bebê, se afogou foi? Não coma tão depressa! – Ele escuta e segura o riso, continuando a comer, enquanto ela já está pegando o café recém passado da cafeteira. Antunes fica tão absorto que só repara que as crianças estão na cozinha ao terminar de comer.

[... continua.]

Por: Rodrigo "Razor" Lanzarini.

Surpresa Mútua - Parte #2










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11 horas da manhã e Christian acorda meio zumbi e de mau humor. "Que noite medooonha!!!" - fala pra si mesmo, enquanto se estica e esfrega os olhos e o rosto. Tivera mais uma "sessão pesadelo". Dessa vez, porém, além dos olhos e da névoa, uma nova presença: uma mulher de vestido azul, com grande parte do rosto envolto em um véu, lembrando vestimentas de origem árabe. Curiosamente no momento em que ela aparece tudo parece mudar, e ele sente receio e preocupação vindo desta mulher misteriosa.

--- Acho que vou ter que começar a comer só salada a noite, senão daqui uns dias vou estar um bagaço desse jeito, só dormindo mal e tendo pesadelos! - Ao pensar nisso bate a mão na testa e lembra de que precisa fazer todos as tarefas de casa e ir ao supermercado, e que já deveria ter começado a fazer isso bem antes. Praticamente pula da cama, vai ao banheiro escovar os dentes e já aproveita e toma uma ducha rápida, se arrumando na sequência e indo tomar um café da manhã bem leve, resumido a um copo de leite de soja sabor laranja. Corre para o supermercado com uma listinha que já estava pronta e em seguida passa na floricultura para comprar um presentinho para Lilian, esperando agradar e fazer dessa noite de sábado algo mais especial. O dia transcorre entre seus afazeres e a noite chega mais rápido do que ele esperava, com Lilian chegando 20 minutos depois de Christian dar por encerrada a arrumação total da casa e ter tomado outra ducha.

--- Oi amor! Tudo bem? E aí, como foi seu dia? - Pergunta Lilian enquanto entra e dá um beijo em Christian, colocando em seguida sua bolsa em cima da mesa e uma sacola no sofá, virando-se de volta e ficando de frente para ele.

--- Tudo certo! Só estou meio cansado. - Fala bocejando e coçando a nuca.

--- Ihh, então vou embora! Ri enquanto fala brincando ao ver a cara de Christian que arregala os olhos e para com a mão na nuca, surpreso pela resposta.
--- Engraçadinha... - Puxa Lilian pela cintura e dá um beijão ardente e cheio de lascívia, fazendo algo despertar e mudar o seu cansaço.

--- Olha só! Pra quem estava cansado você me parece muito disposto! Achei que algumas coisas que eu trouxe teriam que ficar pra um outro dia! - Beija-o acariciando sua cabeça.

--- Desculpe meu anjo... é só um pouco de preguiça que me deu depois do dia de faxina. Sem contar que não dormi bem de novo e ainda tive mais um pe...... - Christian é interrompido pelo barulho de vidro quebrando. No mesmo instante que isso ocorre ambos olham pra porta da cozinha, se olham novamente com uma cara de "que merda foi essa?" e então caminham e entram na cozinha. Um copo que antes ficava embaixo da torneira do garrafão de água mineral está espalhado pelo chão. Lilian não parece estar muito impressionada com aquilo, enquanto Christian visivelmente parece estar com o estomago revirando. Entretanto, ela dispara como que já querendo responder a questão:

--- Chris, você tem que aprender a não deixar as coisas tão na beirada! Vou limpar isso pra gente começar a fazer o jantar. - Começa a juntar os cacos maiores com a mão e vai até a área de serviço pegar a vassoura e a pazinha, enquanto Christian fica pensativo por alguns segundos.

--- Muito estranho isso. Tudo bem que eu sou meio distraído e as vezes deixo as coisas meio que na beirada, mas podia jurar que esse copo estava embaixo da torneirinha. Que coisa doida! e como cairia mesmo estando na beirada? - Indaga enquanto Lilian termina de juntar os cacos e jogá-los no lixo.

--- Não pire Chris. Tá achando que foi o quê, um poltergeist? Como diria o padre Quevedo, "iczto nón ecziste!" - e começa a rir, chegando em Chris e lhe dando um selinho.

-- Certamente tem uma explicação lógica. Foi só um copo que caiu e quebrou. Pode ter sido a vibração de algum caminhão ou ônibus que passou e levou o copo mais pra beirada. Até uma lufada de vento mais forte! A janela ali da área de serviço está aberta e você sabe o quanto encana o vento as vezes. Fique tranquilo certo? Vamos nos preocupar se as portas dos armários começarem a bater, coisas começarem a voar, enfim, se começarmos a presenciar algo que nem acontece nos filmes, ok? - E sorri de uma forma que deixa Christian intrigado.

--- Acho estranho você dizer algo assim. Ainda mais trabalhando numa loja de livros e coisas exotéricas. Pensei que você fosse falar qualquer outra coisa menos isso.

-- Exatamente por trabalhar lá é que falei isso. Não sou tão impressionável e acredito que tudo tem uma explicação. Acho que na verdade nunca fui muito crente nesses assuntos, e trabalhar num lugar assim me deu um ponto de vista em relação a essas questões "espirituais". Sei lá, cheguei a conclusão que só vou acreditar mesmo no dia em que eu realmente ver algo. Até lá, continuo meio cética. Mas respeito quem pensa diferente. - Lilian já se mostra completamente alheia ao que aconteceu, pegando e separando os ingredientes para o jantar.

--- Tudo bem então. Vamos esquecer isso por enquanto e vamos começar a fazer o rango. - Christian meio que fala isso da boca pra fora, pois apesar de estar mais calmo fica com uma certa tensão. Entretanto, ele vai relaxando durante o preparo e o consumo do jantar, que regado com umas boas taças de um excelente vinho tinto seco o faz esquecer desse episódio e lembrar de que até então eles não se curtiram no apartamento novo, tendo ocorrido o último enlace sexual em um motel que deixou a desejar.

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A segunda garrafa de vinho da noite termina de preencher parcialmente as taças e prepara os dois amantes para uma noite que promete. Lilian disse que iria apimentar um pouco a próxima oportunidade em que estivessem a sós e trouxe alguns "brinquedinhos". Christian não era adepto de coisas diferentes, entretanto tinha curiosidade e topou experimentar quando Lilian sugeriu que poderiam introduzir um pouco de bondage e alguns outros fetiches em seus momentos de prazer.

Como que num enredo de filme, Christian começa a cortejar sua namorada, que parece querer atuar da mesma forma, iniciando um strip-tease enquanto caminha para o quarto e começa a mostrar parte do que está planejado para a noite. Seu corpo esguio e sedutor revela peças que estavam escondidas embaixo de uma calça e de uma blusa que já deixavam o corpo da garota atraente, mas que não mostrava totalmente os seus verdadeiros atributos, agora realçados por meias e lingeries sensuais e provocantes.

Ao chegarem no quarto as peles se unem enquanto mãos e bocas percorrem e exploram os corpos seminus, numa dança sincronizada enquanto Lilian deixa seu amado deitado e prepara-se para iniciar as brincadeiras previamente combinadas. Ela o veste com arreios de couro preto decorados com taxas e o prende com algemas à cama, amarrando também os seus pés com faixas igualmente parecidas,  fazendo com que fique totalmente submisso a suas vontades. Ela então começa um ballet sensual em cima de seu corpo, deixando-o tão extasiado que ele nem liga quando ela coloca uma mordaça de bola em sua boca. A dominatrix, a essa altura nua e completamente produzida com adereços em couro, continua com seu jogo de prazer, sendo observada por um Christian que sente uma sensação completamente estranha, pois está apreciando algumas partes da experiência e não gostando muito de outras. Entretanto, ele quer ver até onde vai a brincadeira e deixa rolar, até que ela pega um punhal onde ele pode observar um pedaço de pano estranhamente familiar enrolado no cabo: era a sua meia desaparecida.

Nesse momento Christian é tomado de pavor, pois percebe um brilho macabro nos olhos de sua parceira. No mesmo instante tenta se libertar e vê que as algemas por debaixo da forração de couro são reais e não simples brinquedinhos eróticos. Lilian muda de forma assustadora, rindo feito a psicopata que realmente é, e sem falar nada, revela o seu real plano somente com o olhar. E o início é justamente cortar Christian com sutileza, passando prazerosa e lentamente o punhal em seu peito, barriga, coxas, fazendo pequenos cortes e lambendo-os em seguida. Christian, horrorizado, se chacoalha e balbucia gritos abafados, algo totalmente inútil diante da sua torturadora. Após alguns minutos de "brincadeira", que para Christian pareceram horas, Lilian finalmente revela suas intenções:

--- Gostando da nossa brincadeirinha amor? Pois ela vai ficar ainda melhor! Pena que vai ser só pra mim... - começa a rir e posiciona-se na cama de forma a poder apunhalar o peito de Chris com a maior potência possível.

--- Você deve estar imaginando o porquê de tudo isso não é? Muito simples meu querido. Prazer! Um prazer único, inigualável, que só consigo ter dessa forma. Ah, quanto tempo esperei para isso acontecer novamente! - Mais uma gargalhada brota daquele ser que Christian não reconhece mais como sua amada e sim como uma criatura hedionda que irá lhe tirar a vida. Ela para de rir, muda sua feição e prepara-se para dar o golpe fatal. Ajoelhada sobre a cama por entre as pernas de Christian, segura o punhal com as duas mãos, quando repentinamente a cama começa a balançar, bem como todo o quarto começa a interagir da mesma maneira, com portas do guarda-roupa abrindo e fechando, escrivaninha do quarto também se mexendo e as luzes dos abajures piscando de forma bruxuleante. Lilian abaixa o punhal e começa a observar o quarto todo com uma cara de perplexidade, que instantes depois retorna ao normal.

Christian, desde o início está ainda mais perplexo e com o olhar fixo na porta, pois assim que as atividades paranormais começam a mulher de vestido azul do seu sonho se materializa na entrada do quarto. Lilian entretanto não parece poder vê-la e tão logo tudo se acalma, dá uma nova gargalhada. Neste momento de surpresa psicótica de Lilian, a entidade caminha e fica atrás dela. Lilian repete exatamente o que havia feito minutos antes, parecendo mais uma vez não se importar com o que houve, e prepara-se para o golpe. Christian fecha os olhos e escuta um grito assustador. Imediatamente ele abre os olhos e vê Lilian com a mão esquerda sobre peito, os olhos extremamente abertos e somente com a parte branca a mostra. Assim que o último sopro de seu grito termina o corpo inerte desaba da cama, caindo entre a mesma e cômoda, feito um boneco de pano. Christian então percebe a entidade com o braço a frente e com a mão apertada, como se segurando algo, na altura onde estaria o coração de Lilian. A mulher de azul então cobre a cabeça novamente com o véu, mas agora com uma face serena e de paz, olhando para Christian com ternura, que suspira profundamente antes de começar a sentir os olhos embaçados e desmaia instantes depois.

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--- Ele está acordando, ô Sargento! - São as primeiras palavras que Christian escuta enquanto abre os olhos. Ao seu redor vários policiais, com dois deles desamarrando e tirando a mordaça e as algemas que o prendiam a cama.

--- ELA... TENTOU... ME MATAR! ELA.... ELA...  - Christian é interrompido.

--- Calma rapaz. Depois você conta melhor o que houve, mas já percebemos as intenções da moça. Agora uma unidade médica está vindo pra te levar ao hospital. Você está com muitos cortes e está sangrando bastante. Assim que você estiver em condições dará seu depoimento. Enquanto isso é necessário avisar seus familiares. - Instantes depois Christian está a caminho do hospital, onde é medicado e costurado, encontrando com seus pais, que ficam aterrorizados ao saberem de toda a história. Christian entretanto não revela a parte "espiritual" de tudo o que aconteceu. Tem medo de que achem que ele está louco e resolvam interná-lo em alguma instituição.

Depois de recuperado, na delegacia Christian descobre após seu depoimento que Lilian é a responsável por uma série de assassinatos ocorridos na capital e região metropolitana, onde as vitimas eram todos rapazes com aproximadamente a mesma faixa de idade que ele e com características muito parecidas, sendo que em todos os crimes o autor deixava essa mesma "assinatura": corpos seminus amarrados com apetrechos sadomazoquistas e retalhados, com uma facada certeira no coração. Ela guardava ainda uma pasta, onde colecionava recortes de jornais, fotos e uma peça de roupa de cada uma das suas vítimas. Para a polícia não há mais dúvidas: caso encerrado. A causa da morte de Lilian: ataque cardíaco fulminante.

Ao retornar da delegacia, Christian encontra a vizinha do andar de cima, dona Carmélia, uma senhorinha simpática que ele já tinha conversado algumas vezes ao se cruzarem pelo hall do prédio e no elevador. Foi ela que chamou a polícia, ao escutar os barulhos e o grito fatal. Ela se mostra preocupada e o que vem a revelar surpreende Christian:

--- Você está melhor meu filho? Ficamos sabendo do que aconteceu. Ainda bem que aquela louca não lhe fez um mal maior. Seria terrível se mais uma pessoa tivesse morrido naquele apartamento, ainda mais assassinada. Que horror!

--- Como assim dona Carmélia??? Christian parece não acreditar no que acabou de escutar.

--- Achei que você soubesse meu filho. Ali no seu apartamento morava a dona Yasmin. Ela era viúva e morava com o filho único, que quando conseguiu um emprego novo em uma outra empresa se mudou para um apartamento mais próximo ao trabalho, que era longe daqui.  - Christian continua quieto escutando tudo e sentindo um frio no estomago.
Ele queria o cantinho dele sabe? E também estava namorando e queria um pouco mais de privacidade né? Enfim, em um domingo eles combinaram de almoçar em um restaurante, pois era justamente o aniversário de 60 anos dela. Ele viria pegá-la por volta das 11 da manhã, mas não apareceu no horário. Ela ligou ligou ligou pra ele mas nada. Ficou preocupada e durante 3 dias não teve nenhuma notícia do filho, até que recebeu uma ligação da polícia. Ela ficou arrasada ao descobrir que ele fora assassinado. Depois disso, endoidou e jurou que iria encontrar o assassino e se vingar, mas a coitadinha não durou muito depois disso. Veio a falecer alguns meses antes de você vir morar aqui. O único irmão dela ficou como herdeiro do imóvel e colocou na imobiliária para alugar assim que resolveu toda a papelada.
Christian parecia não acreditar muito bem no que acabara de escutar. Não era possível ser o que imaginava.

--- Dona Carmélia, a senhora por acaso tem alguma foto dela?
--- Claro meu filho. Nós éramos muito amigas. Venha até o meu apartamento que lhe mostro.

Christian acompanhou a senhorinha até o seu apartamento e aguardou ansioso enquanto ela buscava um velho e grande álbum de fotos, que folheou algumas vezes até encontrar uma parte específica.

--- Aí está, essa aqui do meu lado é a Yasmin. E aqui ó (ela aponta na foto) é o filho dela. Tiramos essa foto no reveillon de 2001 aqui em casa. - Christian no mesmo instante reconhece em Yasmin a mulher de vestido azul, bem como o filho, que viu na pasta de "recordações" de Lilian, na delegacia. Agora fazia tudo sentido. Suando frio e ligeiramente incomodado (e deixando transparecer isso), Christian dá uma desculpa qualquer a dona Carmélia e volta apressado até o seu apartamento. Abre uma cerveja e deita no sofá. Sua cabeça está pensando em mil coisas, tentando absorver tudo o que havia acontecido desde sua mudança ao apartamento até poucos instantes quando estava com dona Carmélia. Decide que é melhor se mudar, e o quanto antes. "Amanhã será o dia". Respira fundo e dá um grande gole de cerveja. Enquanto bebe percebe com o canto do olho um vulto passando muito rápido entre a cozinha e o seu quarto. Meia hora depois, está na casa dos seus pais, só retornando ao apartamento com o pessoal da empresa de mudanças para embrulhar levar suas coisas para sua nova morada.

FIM.

Por: Rodrigo "Razor" Lanzarini.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Diário De Um Licantropo - Parte #002














## CLIQUE AQUI PARA LER A PARTE 001 ##

09/07/2009 -  As últimas semanas tem ocorrido normalmente. A mesma insônia, mas agora com novas sensações. Algumas coisas estranhas também tem ocorrido. Neste último final de semana acordei e tive a nítida impressão de estar sentindo cheiro de cachorro na camiseta velha que uso para dormir. Verifiquei várias vezes e era isso mesmo. Esquisito, pois não tenho cachorro ou nenhum outro bicho peludo em casa. Na hora em que percebi isso pensei no tal sonho do outro dia. Mas nada a ver, acho. Afinal, se fosse pra sentir isso teria que ser no dia. Conversei com alguns amigos a respeito, e obviamente escutei as mais estapafúrdias coisas e é claro que ainda teve alguma tiração de sarro, mas tudo bem, afinal, é um sonho estranho.

20/08/2009 -  Depois de muitos dias volto a escrever algo, porque até então estava corrido e não tinha ocorrido nada diferente, digamos. Quer dizer, eu senti novamente o cheiro de cachorro na camiseta mais algumas vezes ao acordar. Mas como eu estou com muito trabalho (viajando muito inclusive) não dei tanta atenção pra isso, apesar de novamente ficar pensativo ao sentir o cheiro. Estou acordando meio cansado e com o corpo dolorido também. Sinal que ando precisando de férias. Se tudo der certo em breve consigo tirar um período de descanso e inclusive marcar a consulta com a psiquiatra e levar todas as anotações que ela pediu.

22/08/2009 -  Acordei neste sábado de supetão, com o corpo pulando na cama, e por causa de um susto que tive em um sonho. Acabei de levantar e já vou escrever antes que eu esqueça. Não sei se foi o susto mas estou com dor de cabeça. Diferente do outro sonho nítido que eu tive, essa noite tive um que foi muito rápido porém também foi marcante. Foi mais ou menos assim:
Era noite. Estava deitado na cama assistindo um programa na TV a cabo, que me lembro ser daquele cara gordinho e careca que come as comidas exóticas. Estava me sentindo sonolento e logo me vi somente escutando o som da televisão, sem prestar mais atenção no que estava passando. Fiquei num estado que pensei ser só o de estar cochilando, mas dormi no sonho e então acordei. Olhei para o relógio e era 4h56. Lembro nitidamente desse horário! Senti uma sensação estranha e me levantei. Parecia que eu estava meio zonzo e não somente com sono. Por alguma razão parecia estar me sentindo pesado, como quando você come demais antes de ir domir e não cai nada bem. Resolvi ir ao banheiro e ao me virar e começar a ir até a porta vi refletido em um quadro (que tem a frente de vidro) uma figura grande e diferente. No mesmo instante me assustei e me retraí, como por instinto, mas tão rápido que me enrosquei no pé da cama e caí em cima dela, provocando um estalo daqueles de madeira quebrando. Me vi perdendo os sentidos aos poucos, com aquela sensação de formigamento no corpo, e apaguei, deitado na ponta da cama. Do jeito que caí desmaiei e fiquei. Senti que estava voltando a mim aos poucos, e nem estava entendendo o porque daquilo, quando a lembrança do que tinha acabado de ocorrer voltou e parece que tive uma carga de adrenalina. Acordei imediatamente.

E foi assim que acordei, ao mesmo tempo. Estava com o corpo dolorido e todo torto na cama. Cobertas e lençóis bagunçados. Isso me lembrou uma vez um amigo que não dormia bem e fez um daqueles exames "do sono", e ele descobriu que tinha uns problemas e conseguiu resolver. Escrevi isso pra ficar a lembrança e falar com a psiquiatra, pra ver se não seria uma boa fazer isso também. Enfim, foi isso. Ah, e novamente senti o cheiro de cachorro na camiseta velha. To começando a achar que eu to ficando meio maluco ou com algum problema olfativo.

23/08/2009 -  Não consigo acreditar. Eu realmente estou bem surpreso com o que acabou de acontecer. A cada 15 dias é feita a troca de toda a roupa de cama. O colchão tem uma capa que para tirar é preciso puxar o colchão pra fora da cama. Quando fui puxar ele ficou meio preso por alguma coisa. Foi quando eu descobri um pedaço do estrado da cama quebrado, sendo que a ponta da madeira acabou prendendo na capa da cama quando eu puxei. Na hora não caiu a ficha. Pensei "ué? como que isso está quebrado?" e foi quando eu lembrei imediatamente do sonho da noite anterior. Não é possível que o que eu achei que foi um sonho aconteceu. O estrado está quebrado exatamente onde corresponderia a posição em que eu caí no sonho. Se aconteceu mesmo, porque eu senti o que senti e vi o que vi? Não sei bem o que pensar no momento. Vou tentar por a cabeça no lugar e vou escrever depois alguma conclusão aqui, pra manter esse registro, que estou achando que está ficando cada dia mais estranho e confuso.

Por: Rodrigo "Razor" Lanzarini.